quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Elas se fizeram rainhas
Mãe Menininha do Gantois e Clementina de Jesus

Mãe Menininha do Gantois
Mãe Menininha do Gantois – Maria Escolástica da Conceição Nazaré nasceu em Salvador-BA em 10 de fevereiro de 1894.

Foi a quarta Iyalorixá do Terreiro do Gantois e a mais famosa de todas as mães de santos brasileiras.

O terreiro, que inicialmente funcionava na  Barroquinha na zona central de Salvador, foi transferido para o bairro da Federação, em terreno arrendado aos Gantois.

Foi iniciada no culto dos orixás de  Keto aos 8 anos de idade por sua tia-avó e madrinha Pulchéria Maria da Conceição – Mãe Pulchéria – a quem sucedeu anos depois.

Em 18 de fevereiro de 1922, através do jogo de búzios foi confirmada a escolha de Menininha, então com 28 anos, e ela assume definitivamente o terreiro.

Tempos difíceis
Na época em que Mãe Menininha se tornou ialorixá, os tempos não eram fáceis para os adeptos do Candomblé. Além do preconceito, os filhos e mães-de-santo sofriam muitas perseguições e violência. “Não havia liberdade de culto. As casas eram perseguidas e invadidas pela polícia”, diz a antropóloga Josildeth Consorte, da PUC de São Paulo.

Na década de 30, a Lei de Jogos e Costumes esboçou uma certa tolerância ao culto aos orixás. As festas só poderiam ser realizadas em determinados horários e mediante uma autorização por escrito. Isso, no entanto, não impedia que os policiais invadissem os terreiros, espalhando violência e terror. “Eles entravam a cavalo e munidos de sabres. Furavam os atabaques e quebravam tudo o que encontravam pelo caminho”, conta mãe Carmem.

Os anos de opressão só terminaram em 1976, quando o então governador da Bahia, Roberto Santos, sancionou um decreto liberando as casas de Candomblé da obtenção de licença e do pagamento de taxas à delegacia de Jogos e Costumes. Até esse período, porém, não há registros de que o Gantois tenha sido alvo das batidas policiais, tampouco de violências e agressões. “Mãe Menininha teve a grande capacidade de atrair para o terreiro a simpatia de muitas pessoas importantes da Bahia, que protegeram o terreiro de certas investidas da polícia e de outros perseguidores”, diz Reginaldo Prandi.

Mãe Menininha foi uma das principais articuladoras do término das restrições e proibições. "Isso é uma tradição ancestral, doutor", ponderava a ialorixá diante do chefe da Delegacia de Jogos e Costumes. "Venha dar uma olhadinha o senhor também."

Mãe Menininha abriu as portas do Gantois aos brancos e católicos - uma abertura que  em muitos terreiros era vista com certo estranhamento.

Sacerdotisa popular
Sob o comando de Mãe Menininha, o Gantois logo se tornou um dos terreiros mais procurados e respeitados da Bahia. Filha de Oxum, divindade relacionadas às águas doces e ao amor, a líder religiosa tinha várias características de sua orixá. Muitos que a conheceram a descrevem como uma mulher amorosa, generosa e sempre disposta a aconselhar quem a procurava. “Ela sempre tinha uma palavra, uma mensagem confortadora”, afirma Josildeth Consorte.

Com o passar do tempo, Mãe Menininha foi formando cada vez mais filhos-de-santo e sua popularidade não parou de crescer. “Nos anos 80, assiste-se a sua veneração. A imagem de Menininha do Gantois já adquire ares de mitificação”, escreveu o antropólogo Jocélio Teles em Caminhos da Alma. “Ser abençoado por Mãe Menininha era um desejo de todo mundo que visitava a Bahia”, afirma Josildeth. Para receber a bênção da sacerdotisa, turistas de todas as partes do país lotavam ônibus e se amontoavam na entrada do terreiro.

Políticos, artistas, intelectuais e acadêmicos a procuravam constantemente em busca de conselhos, orientações ou informações para suas pesquisas. A iyalorixá também recebia muita gente humilde, pobres da periferia ou do campo, que muitas vezes queriam um lugar onde comer e passar a noite.

Ecumênica por natureza
Ecumênica por natureza, Mãe Menininha declarou uma vez: “Deus? O mesmo Deus da Igreja é o do Candomblé. A África conhece o nosso Deus tanto quanto nós, com o nome de Olorum. A morada dele é lá em cima e a nossa, cá embaixo”. A frase está hoje exposta no Memorial Mãe Menininha do Gantois, em Salvador. No pequeno museu, que reúne objetos pessoais da iyalorixá e funciona no próprio terreiro, estão, entre outros objetos pessoais, a mesinha onde jogava os búzios, o rádio que gostava de ouvir e os óculos de armação grossa, sua marca registrada.
Para muitos pesquisadores, a popularidade e o reconhecimento que Mãe Menininha alcançou contribuíram para tornar o Candomblé uma religião mais aceita no país.

Admirada pela sabedoria, gentileza, conhecimentos, humildade e pulso firme, Mãe Menininha do Gantois foi a grande responsável pela difusão e popularização do candomblé na Bahia, tendo sido amiga e conselheira espiritual de várias personalidades ilustres, a exemplo de Jorge Amado, Vinicius de Moraes, Dorival Caymi, Zélia Gatai, Pierre Verger, Caribe e Nina Rodrigues.

Jorge Amado, um dos seus grandes admiradores, dizia que ela era uma filha de escravos que se fez rainha, e que havia orientado o povo baiano com exemplar dedicação e perene bondade. Caymmi, por sua vez, no verso de sua canção Mãe Menininha, ressaltava que a mão da doçura estava no Gantois. E, Vinicius, enalteceria em prosa e verso a famosa mãe-de-santo que usava saias de renda e óculos de lentes grossas.

Mãe Menininha, além disso, foi muito procurada por antropólogos e sociólogos, que nela buscavam uma preciosa fonte de informações para redigir suas teses e estudos acadêmicos. A sua importância ficou tão evidenciada, no cenário cultural do País, que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos chegou a emitir um selo comemorativo, em homenagem ao centenário de seu nascimento.
Fontes:



CLEMENTINA DE JESUS



CLEMENTINA DE JESUS nasceu na comunidade do Carambita, Valença, Rio de Janeiro, em 7 de fevereiro de 1902, ainda menina, acompanhava a sua mãe, com a incumbência de acender seu cachimbo que, lavando roupa, fumava. Enquanto lavava, Dona Amélia cantava lundus, jongos, corimas, modas, incelenças, pontos, chulas e cantos de trabalho, que a filha guardou em sua memória e viria a registrar 50 anos mais tarde.

Mudou-se com a família para a Capital aos oito anos de idade, radicando-se no bairro de Oswaldo Cruz. Lá acompanhou de perto o surgimento e desenvolvimento da escola de samba Portela.

Um diamante bruto. Assim se poderia definir essa cantora que deu inicio à sua carreira profissional aos 48 anos de idade, depois de ter trabalhado por mais de vinte anos como empregada doméstica na casa da mesma família que gostava de ouvi-la enquanto lavava, passava a ferro ou preparava comida, com exceção da dona da casa que dizia que sua voz a irritava por parecer um miado de gato.

Seu canto rouco e quase falado estava fora de qualquer padrão estético e até hoje sem qualquer paralelo entre as cantoras brasileiras. Almas gêmeas, não pelo repertório mas pela forma selvagem e pela maneira que integrava voz e corpo, que se soltava com todo o tipo de dança, podem se comparar a cantoras afro norte-americanas como uma Bessie Smith.

Dessa forma sua ancestralidade africana permitiu que ela estabelecesse uma ponte do riquíssimo folclore dos terreiros com a linguagem urbana e contemporânea. Clementina foi o retrato do sincretismo brasileiro. Das rezas em gêge e nagô e cantos em iorubá que ouvia de sua mãe e dos hinos católicos que cantava no coro da igreja; dos pontos de candomblé e dos sambas de roda das festas das quais participava.
Em 1963 foi convidada por Hermínio Bello de Carvalho, que a ouvira anteriormente numa festa, e subiu ao palco do Teatro Jovem, em Botafogo, abrindo o movimento Menestrel, que unia os eruditos aos populares.

O erudito que acompanhou Clementina foi o violonista Turíbio Santos.

A repercussão foi enorme, e inspirou Carvalho a dar seqüência. Foi criado o musical Rosas de Ouro. Nele, Clementina contracenava com a cantora de Teatro de Revista, Araci Cortes e tinha como acompanhantes jovens talentos, como Paulinho da Viola, Elton Medeiros e Nelson Sargento, entre outros.

CLEMENTINA DE JESUS não foi à escola para aprender técnica vocal, aprendeu sim a cantar, ou melhor, desenvolveu seu canto durante o trabalho do dia a dia. TINA ou QUELÉ como era chamada pelos amigos, gravou ao longo de sua carreira 9 LPs e 3 compactos e participou de discos de outros artistas, como por exemplo Milton Nascimento.

Essa Afro-Brasileira maravilhosa apresentou-se também na Africa e Europa. Chegou mesmo a cantar a Marselhesa, hino nacional francês na própria França. Não foi grande vendedora de discos e como disse Carlos Calado, crítico musical "Irônico e triste, mas em certos países as bijuterias valem mais que os diamantes brutos."

Considerada rainha do partido alto, com seu timbre de voz inconfundível, foi homenageada por Elton Medeiros com o partido "Clementina, Cadê Você?" e foi cantada por Clara Nunes com o "P.C.J, Partido Clementina de Jesus", em 1977, de autoria do compositor da Portela Candeia. Ouça agora.


Rainha Ginga, Quelé, Tina, maneiras de chamar Clementina de Jesus, com a imponência do título de realeza e com a corruptela carinhosa de seu nome.

A ternura de negra velha sorridente. Todos com quem se envolvia tinham a compulsão de chamá-la Mãe, como a chamavam os músicos do musical Rosa de Ouro.

Um brilho especial nos olhos que cativou desde os mais humildes ao imperador Haile Selassié.

TINA ou QUELÉ, morreu em julho de 1987 aos 85 anos de idade deixando um vazio mas a memória de uma raça registrada para as gerações futuras.
Fontes:

Um comentário:

  1. Aprendizado constante.
    Está sendo muito bom conhecer a trajetória de tants personalidades negras importantes, em especial das mulheres.
    Por elas me sinto representada
    Parabéns pelo blog!!

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